12.8.11
Os Tumultos de Inglaterra e o Futuro das Sociedades Ocidentais
Atónito, como muita gente por esse mundo fora, com mais uma «jacquerie» tipicamente moderna que as nossas maiores urbes europeias, agora as de Inglaterra, elogiadamente das mais multi-culturais do planeta, deram em produzir, para nossa geral reflexão e, mais uma vez, oportuna edificação.
Depois de 4 noites tumultuosas os cidadãos britânicos podem finalmente respirar de alívio. Alguns, entrementes, elucidados pela actuação demasiado circunspecta da sua veneranda Polícia, haviam já começado a tomar as tarefas de defesa da vida e da propriedade em suas próprias democráticas mãos, não fossem os jovens de ânimos exaltados perder de vez a tramontana, reduzindo tudo à purificação final do fogo inclemente e inapelável.
Se a inoperância policial inicial a todos surpreendeu, é bom não colocar o ónus exclusivamente na Polícia, porque esta é uma força disciplinada, habituada a respeitar normas e padrões superiormente definidos e, com frequência, vê-se desapoiada judicial e politicamente, pelos que deveriam ser os seus primeiros defensores, os responsáveis políticos, acaso percebessem regularmente a sua missão.
Ao quinto dia, porém, o Primeiro-Ministro inglês David Cameron, regressado das suas interrompidas férias, prometeu «uma resposta firme» aos distúrbios dos últimos dias, em várias cidades britânicas, assegurando que a tão invocada dita já estaria em marcha.
Todavia, teria sido mais convincente se a apregoada firmeza logo tivesse começado pela substituição da sua Ministra do Interior, Theresa May, em paga das inanidades proferidas, nos primeiros momentos da deflagração dos motins, a respeito da sua imaginada «actuação da Polícia por consentimento», declaração que teve por efeito a imediata desautorização da utilização de meios mais vigorosos na repressão dos desmandos, como a situação exigia.
Concomitantemente, deveria também o PM britânico ter-se lembrado de, por uma vez, proibir que um Super-Intendente da Polícia comparecesse fardado, com turbante de Sikh na cabeça, a falar à Comunicação Social, como ainda há poucos dias todos tivemos oportunidade de ver, estupefactos, na Televisão, às desgraçadas horas dos telejornais.
Por aqui certamente se deveria principiar por buscar a verdadeira raiz de grande parte dos problemas que está a viver este País, outrora próspero e, em muitas coisas, exemplar, mas hoje profundamente decadente, largamente deseducado, degradado e caótico, principalmente nas suas maiores cidades.
Na verdade, a Grã-Bretanha iniciou há décadas um processo de notória decadência económica, civilizacional, cultural, social e comportamental, patente em praticamente todos os sectores da sua vida nacional.
Basta, para o efeito, comparar as suas actuais produções culturais, como, por exemplo, as séries televisivas, as de humor e outras, com as apresentadas em décadas anteriores, para se comprovar, com toda a evidência, a diminuição dos padrões intelectuais, estéticos, artísticos e comportamentais que presidem à sua elaboração, os quais, por regra, roçam a mais abjecta vulgaridade, ante a passividade geral das suas elites, outrora exigentes, capazes de impor, nesses programas, graus mínimos de decência, mesmo se não logravam impedir o aparecimento e a publicidade de produções de inferior qualidade.
Sem aparente reclamação, tem-se assistido à progressiva predominância do reles, do grosseiro, em quase todos as manifestações culturais britânicas, as mesmas que, em tempos, surgiam invariavelmente impregnadas do conceito de qualidade, categoria habitualmente garantida, quase só, pela sua proveniência.
Custa, naturalmente, a qualquer um verificar este processo de corrupção dos melhores, dos que estariam em condições de promover os mais elevados padrões de qualidade civilizacional, mas que, por falta de clarividência, por confusão de critérios, por inibições de toda a espécie, cedem e sucumbem ante o mais fácil, o mais elementar, o mais degradado, porventura convencidos que estão agindo em cumprimento de critérios mais democráticos, mais populares, em contraponto com os supostos de carácter elitista, só acessíveis a pequenas minorias.
Deixa assim de haver verdadeiras referências, caindo tudo num relativismo trivial, inconsequente e finalmente nivelador da mais acabada mediocridade, desígnio, quiçá escondido, mas desejado, dos equivocados dirigentes políticos das nossas hodiernas sociedades.
A entronização do dinheiro, do lucro a todo o preço, da preponderância dos critérios de medição monetária na valorização de todos os bens, materiais e espirituais, que uma sociedade pode produzir, tudo isto tem levado inexoravelmente à dissolução dos vínculos que conferiam coesão às comunidades.
A glorificação do Mercado, como entidade superior a tudo o mais, acima do conceito de Estado e de Nação, conduz as populações à prática do mais desenfreado egoísmo, à busca de riqueza por todos os meios, legais ou ilegais, uma vez que o resultado é que importa, só por ele cada um sendo valorizado.
Não deixa de ser estranho que o Mundo Ocidental, capitalista, democrático, próspero e razoavelmente tolerante, moral e culturalmente liberal, com um grau de coesão social muito significativo, sobretudo na Europa Central e do Norte, traduzido na aplicação do conceito de Estado de Bem-Estar Social, o tão justamente apreciado Welfare State, vigente até ao final dos anos 70 do século passado, que produziu as sociedades mais avançadas de toda a História, depois de vencer o seu arqui-inimigo, o socialismo comunista de Soviéticos, Chineses, Albaneses, Norte-Coreanos e Cubanos, tenha entrado numa aparente loucura comportamental, baseada na euforia consumista, instigada pela doutrina economicamente ultra-liberal, mas, do ponto de vista social, comprovadamente auto-destruidora das suas sociedades.
Dir-se-ia ter-se tratado de uma vitória inútil, de efeitos perversos, uma vez que, enquanto o modelo rival de sociedade existiu, foi possível ao Mundo Capitalista criar sociedades de Bem-Estar prósperas, tolerantes e conviventes, mas que, agora, por pura desorientação ideológica dos seus dirigentes, estas sociedades se acham em estado de progressiva desagregação, com a sua ruína económica à vista.
Parece paradoxal, mas é o que tem vindo a acontecer e se estes mesmos dirigentes não recobrarem algum senso comum, tão cedo o espectro da desgraça não nos abandonará.
Veremos, outra vez e sempre, com a esperança remanescente, se se aprenderá alguma coisa com mais esta explosão de desordem nas cidades tão levianamente tornadas multi-culturais, no decurso dos últimos decénios em que o fenómeno se acelerou.
Quase toda a Europa vive hoje este problema da difícil convivência inter-cultural entre comunidades de acolhimento e as que aqui chegam em busca do seu imaginado eldorado económico.
Infelizmente, muitas destas populações migrantes não revelam grande empenho em adaptar-se aos usos e costumes europeus, exacerbando as suas diferenças culturais e religiosas, por vezes de forma claramente agressiva, insensata, que acaba por gerar apreensão e, por fim, a sua inevitável rejeição da parte dos autóctones.
Acresce que a falta de cooperação entre os membros da União Europeia tem dificultado o desmantelamento de múltiplas redes criminosas que circulam com grande à-vontade no seu interior.
Lembre-se a propósito que, em 1995, a polícia francesa havia solicitado do Reino Unido a extradição de um dos chefes do bando de extremistas islamitas que havia cometido vários atentados terroristas em território francês, de que resultaram diversos mortos e feridos, simples cidadãos transeuntes, note-se, tendo-se as autoridades inglesas recusado a atender esse pedido durante 10 anos, só vindo finalmente a satisfazê-lo, depois de elas próprias terem sido vítimas das mesmas acções, perpetradas por seitas idênticas, no ano de 2005, por ocasião dos atentados no Metro de Londres.
Analogamente, convém não ignorar que estes fenómenos de migração maciça foram inicialmente bastante incentivados por muitos Empresários ocidentais ávidos de mão-de-obra barata e sem direitos, de começo, dócil, não reivindicativa, duplamente aproveitada, já que assim conseguiam, por acréscimo, limitar os anseios e a capacidade negocial por melhores salários e condições sociais mais confortáveis por parte das massas laborais dos países acolhedores destas facilitadas vagas migratórias.
Na altura, não houve visão de problemas futuros ou prevaleceu a perspectiva mais optimista quanto à integração das novas comunidades.
Ter-se-á pensado que a rapidez na concessão da nacionalidade facilitaria a integração dessas massas de imigrantes, sem cuidar de bem avaliar se a atribuição de nacionalidade seria por elas genuinamente desejada e justificadamente merecida, duas condições absolutamente essenciais, para qualquer acção política em tão crítico domínio.
Para procurar debelar estes problemas sociais, tão complexos quanto delicados, pelo seu enorme potencial de conflito, provavelmente, toda a presente política de integração teria de ser revista, harmonizada e uniformizada, no espaço da União Europeia, começando, desde logo, pela introdução de maior rigor nos critérios da atribuição de nacionalidade, separando claramente este processo do da concessão de autorização de residência, para fins laborais, a cidadãos oriundos do exterior da UE.
Mas naturalmente que tão melindrosos processos teriam de ser politicamente muito bem conduzidos, por gente de fibra, que, desafortunadamente, hoje parece ter desaparecido ou deixado de ser forjada pelas nossas sociedades contemporâneas.
Até que tal suceda, continuaremos na senda tortuosa e conturbada em que nos encontramos. Resta-nos, entretanto, acreditar na extraordinária capacidade regeneradora da espécie humana, fixando-nos para tal nos luminosos exemplos do passado, sem que, cada um de nós, individualmente, deixe de ir fazendo alguma coisa de útil nesse sentido.
AB_Óbidos, 12 de Agosto de 2011
8.8.11
Evocação de Maria Lúcia Lepecki
Há cerca de duas semanas desapareceu do nosso convívio, com 71 anos de idade, a popular mulher de letras, Maria Lúcia Lepecki, brasileira de nascimento, portuguesa de adopção e de coração, desde 1981 Professora Catedrática de Literatura Portuguesa Contemporânea da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, cidade em que se radicara, logo no início dos anos 70 do século passado.
Por ter com ela mantido, numa ocasião, animada troca de opiniões, como adiante relatarei, a sua morte chocou-me particularmente.
Por feliz acaso, na última 6.ª Feira, 05 de Agosto de 2011, entre as 13h00 e as 14h00, tive o grato prazer de ouvir, na Rádio, num programa da Antena 2, uma sua longa entrevista, dada, creio, em 2007, a João Almeida, em que ela, com a exuberância discursiva que lhe era habitual, falou diversamente da sua vida, no Brasil, em Portugal e em França, em Paris, na Sorbonne, onde terá começado a preparar a sua Tese de Doutoramento, em Literatura Portuguesa, incidindo particularmente na obra literária de Camilo Castelo Branco, um dos escritores mais genuinamente portugueses, característica que afinal não afasta brasileiros, como algumas vezes se ouve por aí dizer, com piedade, até a gente tida por responsável.
Era Maria Lúcia Lepecki uma figura bastante popular entre nós, tendo participado várias vezes em Programas de Rádio e de TV, em que chegou mesmo a apresentar um espaço de tertúlia, com conversas muito interessantes sobre temas da actualidade
Na entrevista a que me refiro, ela traçou uma breve retrospectiva da sua vida, pela qual se fica a perceber a origem do seu interesse por Portugal e pela sua literatura.
Pelos Pais e sobretudo motivada pela afeição de seu Pai pela História e pela Literatura do nosso país foi de onde ela herdou esse seu profundo interesse pela cultura portuguesa.
Lepecki referiu mesmo que seu Pai, leitor assíduo de autores lusitanos, conhecia com pormenor a vida dos Reis portugueses, conhecimento haurido em imensos livros de que dispunha, entre os quais avultavam três exemplares de Os Lusíadas estrategicamente distribuídos pela casa, a denotar leitura frequente e continuada do nosso conspícuo Vate quinhentista.
Terá certamente sido por aqui que Lepecki começou a prender-se sentimentalmente a Portugal, afeição depois aprofundada pelo casamento com cidadão português. O ambiente de amor das coisas portuguesas em que foi criada, na infância e adolescência, explicará com certeza a sua opção de vida adulta e profissional.
A citação completa da 1.ª estrofe – Meu Portugal, meu berço de inocente… - do Prólogo do Poema D. Jaime, de Tomás Ribeiro, escritor e obra hoje quase desconhecidos dos nossos compatriotas, apesar de o seu nome ter sido dado a elegante artéria da cidade de Lisboa, ali às Picoas, perpendicularmente à Avenida Fontes Pereira de Melo, serviu, na entrevista, para bem ilustrar o conhecimento e o carinho que atribuia a tais matérias.
A arquitectura portuguesa, urbanística, sobretudo, por se considerar fundamentalmente bicho urbano, também a cativou imenso, apontando com agudeza, a sua particular percepção da essência do Largo português, distinto do espaço público designado de Praça, diferença que Lepecki aqui notava com grande relevo e especial ternura.
Disse ter sido seu sonho adquirir uma casa térrea num bairro tradicional de Lisboa, desiderato, todavia, que nunca pudera realizar.
Como seria quase inevitável, o entrevistador perguntou-lhe como via ela a situação da Língua Portuguesa, ao fim de tantos anos a leccionar jovens universitários na sua Faculdade de Letras.
Apontou Lepecki dois problemas especialmente graves, em Portugal, sobretudo, realidade que naturalmente conhecia melhor, por aqui ter trabalhado quase 40 anos, relacionados com o uso do idioma, na sua forma oral ou coloquial, que são a sua falta de clareza, pela articulação deficiente, incompleta das sílabas das palavras, na boca dos portugueses, em que sofrem amputações várias, que corrompem e dificultam a sua percepção.
Citou, por exemplo, «O Secretário», que nos chega aos ouvidos quase como «o cretário», por via de uma perigosa tendência para o ensurdecimento do idioma, fenómeno típico da oralidade portuguesa, que a Escola não tem conseguido contrariar, pelo contrário, antes aparece ter agravado, pelo descaso em que os assuntos da Língua caíram, relegados para o esquecimento, na degradação geral do Ensino registada nos últimos decénios, particularmente sentida no domínio do Idioma, mesmo entre pessoas saídas de Universidades.
Sobre a questão ortográfica também se pronunciou, desvalorizando as diferenças entre as grafias do Português no Brasil e em Portugal, não sentindo necessidade da sua uniformização. Disse sempre ter lido obras literárias nas duas formas, desde muito cedo, na sua vida, separando-as intelectualmente, sem qualquer confusão.
A propósito deste tipo de questões, relembro uma animada conversa que com ela mantive, na sequência de um colóquio ocorrido haverá cerca de 15 anos, numa Feira do Livro de Lisboa, em que a confrontei com alguns típicos solecismos da fala brasileira, em expressões como : «Você já falou com teu Pai» ? ou «Você quer entrar, então entra» ou «Tu vai ver o que eu vou falar…» etc., etc., em que é evidente a corrupção da sintaxe própria da Língua Portuguesa, como de qualquer outra língua de origem latina, línguas que jamais admitiram tais aleijões, nem nunca o poderão consentir, sob pena de deformação irreparável do seu paradigma sintáctico.
Ela aqui concedeu que havia erros crassos naquelas frases, mas sem lhes atribuir demasiada importância, radicando o problema, a seu ver, na influência ali sofrida pelo Português a partir das línguas nativas dos índios do Brasil, bem como dos diversos falares dos povos africanos para lá levados durante o tempo da Colonização portuguesa.
Todas estas línguas, dialectos e crioulos, em contacto com o Português, acabaram por influenciar a sua forma de o falar no território por imensas populações, só muito tardiamente alfabetizadas, praticamente só no século XX se registando um esforço sério e continuado nesse propósito.
Em consequência, certos erros de linguagem têm persistido e até ganho difusão inesperada, como citou o seu próprio caso de Professora Universitária de Literatura Portuguesa radicada longos anos em Portugal e dando por si, por vezes, a dizer «os livro» em conversa com seu filho, que logo a censurava e ela se penalizava, por tamanha incongruência em figura de Professora, de Faculdade de Letras, ainda por cima.
Em contraste, os erros de linguagem que mais a incomodavam em Portugal, indicou-mos, eram os das expressões : «coloquem os vossos livros em cima das mesas», em lugar de «colocai os vossos…» ou de «coloquem os seus… de vocês, dos senhores,…», como de facto deveríamos dizer, mas não o fazemos e já nem sequer do erro nos apercebemos de tanto o praticarmos e de o vermos praticado.
Alguns até já deixaram de o reconhecer, como erro, julgando que assim o eliminam de vez. Os próprios Professores, de todos os graus de Ensino, o adoptaram e já nem o assinalam, muito menos o condenam e assim ele se vai eternizando no nosso modo de falar.
Também na pronúncia portuguesa Lepecki verberava deficiências óbvias, que tornam a Língua quase imperceptível para estrangeiros, quando falamos coloquialmente, de forma atabalhoada, pretensamente rápida, mas sem clareza na sua elocução.
Para reforçar este ponto de vista, Lepecki foi ao ponto de me recitar a estrofe inicial de Os Lusíadas, nas duas diferenciadas pronúncias, a portuguesa e a brasileira, levando-me a concordar que esta última era, na realidade, muito mais perceptível para qualquer ouvinte, nacional ou estrangeiro, com algum conhecimento do idioma.
No decurso da nossa interessantíssima cavaqueira, Lepecki foi citando várias obras e autores onde eu, na sua opinião, poderia ver assuntos correlatos bem tratados, dando-se o caso, para sua surpresa, de eu invariavelmente lhe ter declarado que os havia lido, tendo-os todos em casa e frequentemente também os consultando.
À medida que o tempo passava e o marido, já algo enfadado com o prolongado colóquio, insistia com ela para que terminasse a conversa e retomasse o caminho de regresso a casa, Lepecki teve este desabafo tipicamente brasileiro, até na expressão : «Deixa eu falar com este «cara», que ele me parece uma pessoa muito bem informada», passe o generoso elogio, naturalmente agradável de escutar, em especial, da parte de quem dele faz uso moderado.
No final, ainda me convidou a prosseguir o diálogo, escrevendo-lhe para a Faculdade, coisa que já não fiz, mas de que certamente tiraria benefício garantido, pela sua condição de intelectual bem formada e de cultura bastante ampliada, pela sua longa experiência de docência e de vida, dividida entre o Brasil e Portugal, mas já com maior duração entre nós, por sua opção duplamente amorosa.
Certamente por isso Portugal lhe concedeu merecida condecoração, salvo erro no ano 2000, por ocasião do Dia Mundial da Mulher, ainda bem a tempo de lhe pagar tanto amor e simpatia que soube difundir nesta velha Pátria europeia, que levou a sua Língua a tanto lugar inóspito e distante, como lá no seu Araxá, no interior do Estado de Minas Gerais, no Brasil, de onde Maria Lúcia Lepecki era natural.
Em sua memória e porque ela a recitou tão bem, na entrevista, agora histórica, aqui várias vezes mencionada, transcrevo a bela estrofe do Prólogo do Poema D. Jaime, do injustamente esquecido poeta romântico, de forte sentimento patriótico, Tomás Ribeiro ( 1831 – 1901 )
Prólogo de D. Jaime
Meu Portugal, meu berço de inocente
Lisa estrada que andei débil infante,
Variado jardim de adolescente,
Meu laranjal em flor sempre odorante,
Minha tarde de amor, meu dia ardente,
Minha noite de estrelas rutilante,
Meu vergado pomar de um rico Outono,
Sê meu berço final no último sono !
AB_Óbidos, 08 de Agosto de 2011